entrevista sobre baltucz - outsider




Fritzlounge entrevista Baltucz em seu projeto solo intitulado Outsider.

A tarde de domingo é quente, o calor do sol na ilha de Florianópolis é intenso nesta época do ano. Baltucz vive com sua mulher num apartamento próximo à Universidade Federal e fundo com um morro onde o verde predomina na paisagem. Ele veste uma bermuda e camiseta, com os cabelos cortados e desalinhados, não parece à figura que está na capa do disco que leva seu pseudônimo. Baltucz, é claro, não é seu nome. Ajeitando os óculos e com uma expressão um pouco cansada, ele se desculpa pela aparência, dizendo não ter conseguido dormir a noite anterior. Um trabalho que o envolve por essas semanas “está levando mais tempo para ser terminado”, deixou-o trabalhando noite adentro e acordou cedo para tentar conclui-lo.

Quatorze discos com sua banda “The Baltucz Band” em um espaço de tempo relativamente curto torna-o quase uma máquina de fazer músicas, e entre o trabalho em uma empresa de jogos educacionais, os desenhos que faz e as telas que pinta, ainda há espaço para fazer suas composições próprias. “Artista é um operário, temos que trabalhar muito até começar a fazer algum sucesso e comercializar as obras”. Suas telas - espalhadas pelo apartamento de dois quartos - ilustram meninas dormindo, adolescentes que lembram as telas acadêmicas de Balthus, um pintor francês que faleceu em 2001 e um dos grandes expoentes da arte do século 20. Baltucz conta que seu pseudônimo se originou a partir do nome deste pintor que tanto admira. “Por uma grafia errada numa nota de jornal, achei o nome sugestivo e enigmático, assim como as obras deste pintor.”. Embora Baltucz faça parte da banda The Baltucz Band, ele se diz um não-músico, “sou um pintor e não músico, a música veio como uma vontade de criar algo que não cabia nem nos desenhos, pinturas ou na escrita”.

No entanto, apesar de um não-músico, sua banda realizou a façanha de ter lançado 14 discos em pouco mais de um ano. No alto de seus 32 anos, feitos em fevereiro, Baltucz nos revela um pouco de sua veia “não-musical”:

Fritzlounge: Outsider tem uma sonoridade eletrônica, por quê?

Baltucz: Acho que é a influência das coisas que tenho escutado, sempre gostei de Radiohead e outras bandas que usam elementos eletrônicos, mas também gosto de ouvir a trilha sonora de Vangelis para Blade Runner.

Fritzlounge: Por isso então em “Tortoise” os diálogos de Blade Runner?

Baltucz: Sim e não, Blade Runner sempre foi uma influência para mim, vi quando tinha meus nove, dez anos, e me marcou profundamente aquela visão negativa de futuro. Tudo neste filme é especial... Acho que ele é a base para essas músicas, o ponto de partida, por isso também estamos gravando outro disco mais ambiente, mais enigmático...já temos até um título: Notas soltas e papéis avulsos.

Fritzlounge: Por que decidiu lançar um disco solo?

Baltucz: Xícara não gosta da sonoridade eletrônica, dos projetos Fritzlounge que fizemos antes levando o nome da banda, ele não participou de nenhum...ele gosta de fazer rock, cru e visceral... eu acho que sou um equilíbrio para contrabalançar as coisas, se não teríamos um som muito mais pesado nos nossos discos (risos)!

Fritzlounge: Mas a banda ainda existe?

Baltucz: É claro, The Baltucz Band sou eu e Xícara, e isso vai existir sempre, mesmo que deixemos de lado por um tempo, ela ainda vai existir... este disco solo é um prolongamento da banda, não queria fazer uma versão 5 de Fritzlounge, queria fazer um disco da banda, mas tive de concordar com Xícara que o estilo de música que eu tinha feito não se assemelhava diretamente com o da banda, por isso um projeto solo!

Fritzlounge: Conte mais sobre Fritzlounge.

Baltucz: Fritzlounge foi uma forma bem-humorada de fazer música não exatamente dançante, mas era um experimentalismo que não combina com o que estava fazendo para Outsider. Acho que em breve eu vá reformular a idéia Fritzlounge...

Fritzlounge: Na capa, há um retrato seu, e está vestido com um casaco grosso e um cachecol que destoa do clima de Florianópolis...

Baltucz: O clima deste disco, apesar de um pouco dançante, é bem frio, é como explicar o que significa ser um outsider, longe do comum, fora dos padrões... Acho que viver na ilha é ser um pouco outsider, daqui tudo parece distante. Sempre me senti um outsider, desde criança, lendo histórias em quadrinhos, fazendo meus desenhos, vivendo uma espécie de abismo que me separava das outras pessoas... Isso, é claro, foi se transformando com o passar dos anos, e aqui mesmo na ilha encontro outras pessoas que são de alguma forma outsiders também. Parece que as pessoas que não são daqui e vêm pra cá formam uma grande família. Amigos muito queridos, pessoas boas, enfim. A energia daqui é muito positiva!

Fritzlounge: Este disco remete então a esta fase da vida ou ao lugar onde está vivendo?

Baltucz: Não, acho eu só agora pude exteriorizar o que havia pensado tempos atrás. Acho que se trata de viver num lugar frio também, lugar onde as pessoas em geral são frias. Curitiba é assim, adoro Curitiba, mas no geral a cidade tem um clima difícil e as pessoas na rua andam como fantasmas. Se duvidar elas passam por cima de você...(risos) O clima nonsense de Curitiba me inspirou muito nas artes plásticas, é uma cidade que tem dois lados muito contrastantes. Morei lá por quase 12 anos, gosto de lá, mas não viveria mais na cidade.

Fritzlounge: Não há vocais em Outsider. Há alguma vontade de exercitar esta possibilidade?

Baltucz: (rindo) Não, não! Minha voz não colabora...além do mais, sempre pensei que se fosse para fazer música que servisse para uma trilha sonora, não era necessário ter vocais, e a mensagem que eu quero levar está na idéia de como fazer música e não em letras.

Fritzlounge: É provável outro disco solo depois deste, ou o próximo leva o nome da banda?

Baltucz: Como disse, estamos trabalhando num disco que talvez seja mais sombrio, enigmático que este meu, não sei se no final Xícara vai concordar em colocar o nome da banda nos créditos, acho que tudo possível, mas não o fim da The Baltucz Band.

Fritzlounge: Sobre sucesso e público, ainda não há apresentações ao vivo da banda, isso é algum tipo de auto-sabotagem no mundo musical de hoje ou vocês realmente não se importam e não querem vender?

Baltucz: (risos) Auto-sabotagem! Estou brincando, claro que queremos vender, vamos fazer shows em breve, mas acho que só a partir de 2009, por enquanto é só produção e desempenho dentro do estúdio. Por enquanto estou feliz assim, eu trabalho em uma empresa onde faço ilustrações, tenho meu trabalho em pintura, e meu portfólio com ilustrações para comercializar. A banda aparece em último lugar de valores para comercializar. Acho que estou me privando muito de não fazer shows e ver a reação das pessoas, mas é o caminho no momento, o que foi possível fazer até agora. As pessoas mais próximas que escutam os discos têm gostado, talvez possamos fazer algum sucesso ainda...pelo menos antes de eu completar 40 anos, daqui a alguns anos (risos)!

Fritzlounge: Obrigado pela entrevista, agradeço por ter me recebido em sua casa.

Baltucz: De nada, eu é que agradeço!

Baltucz se despede arrastando os chinelos pelo chão da sala, seus olhos estão mais cansados ainda e a expressão com que ele olha para fora da janela e vê a noite que caiu é praticamente a mesma do retrato que figura a capa de seu disco.

Baltucz “Outsider” é um lançamento da Pirata Records, e está disponível por este blog.

Fritzlounge blogspot.

Para fazer o download do disco, clique aqui: Outsider

2018

soundcloud.com/baltucz

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